12 de outubro de 2010

Diálogo de Cores

Estava eu lendo uns trechos de Klimt essa noite quando me lembrei de ti.
As palavras, faladas ou escritas, não me saem com facilidade, especialmente quando tenho que dizer algo sobre mim mesmo ou sobre meu trabalho. (...) Se alguém quiser descobrir algo em mim (...) pode contemplar atentamente minhas pinturas e tratar de descobrir através delas o que sou e o que quero". (Gustav Klimt)
Sempre lhe achei um tanto calado, guardado, como que oculto dentro de si. E sabes bem como o oculto sempre me intriga. Mas de repente, não sei por quais motivos depois de tanto tempo Klimt voltou à minha mente e aos meus olhos e percebi que meus ouvidos tão doutrinados ou habituados - e por que não viciados? - em palavras, fecharam por um segundo meus olhos para ver e ouvir...Tuas palavras formadas de imagens, cores e mundos. Sua fala é mais constante e intensa do que a verborragia desse mundo palpável, mas só é possível escutá-lo com a mente, por dentro e não por fora.
Quando fala, desvias sempre o olhar para um ponto. Mas não como quem desvia para fugir, mas sim como quem se transporta. Sempre acreditei que os olhos são as portas da alma, mas eu diria que os seus são portais de seu mundo onírico, tão melancólico e colorido, paradoxal como são os universos da mente, nossos abismos que nos revelam a face que tanto rejeitamos e veneramos. Um lago formado de lodo e lótus. O eu.
Me recordo de quando eu era criança e tinha verdadeira adoração por olhos, recortava-os de revistas e os colava à minha volta enquanto estava sozinha. E sempre os recolhia e guardava em uma caixa quando alguém se aproximava. Pensava eu que minha obsessão fossem os olhos, mas hoje sei que o que me encanta e instiga sempre foi a alma humana.
Vi em tuas pinturas retratos que sempre povoaram minha mente, meus delírios, meus mundos, universos e abismos. E dentre todas as paisagens, sempre preferi os abismos. Além da razão, da vida, da morte e do tempo. Um abismo de cores.
[ ... ]

20 de julho de 2010

Estrela-Guia

O tempo que nos mantém presos ao chão nunca sabemos, assim como nunca sabemos todas as terras em que pisamos.  E o que nos importa o tempo, quando o melhor de tudo que vivemos fica tatuado em nossas almas para sempre? E um corpo novo nos traz de volta as sementes de amor que plantamos na eternidade. E essas sementes não morrem jamais, pois resumem a melhor essência de todos os deuses.
Batalhas todos temos, mas as mais terríveis  são as que enfrentamos todos os dias dentro de nós, lutando contra nossos próprios erros e ilusões, pois nossos piores inimigos somos nós mesmos. Assim, como somos também nossa única verdadeira redenção. E nos erguemos do lodo de nós mesmos, quando permitimos que a semente do amor  brote e renasça todos os dias, durante toda a eternidade.
Amo-te hoje e sempre, que as águas das quais pertenço possam sempre saciar sua sede em suas lutas internas e que minha estrela  possa sempre guiá-lo nos dias de escuridão. Que meu amor seja sempre a tua estrela.
[ ... ]

1 de abril de 2010

O Gato Preto

Abençoado seja nosso Divino Criador, que nos permite dia após dia refazermos e curarmos as chagas de nossas almas através da reencarnação e dos constantes passos que damos rumo às nossas evoluções ou pelo menos rumo ao ato balsâmico de amenizar nossas dívidas e pesares consciênciais.
Por mais atormentador que possa ser e muitas vezes parecer, é de extrema importância o fato da aproximação de alguns desafetos de nossas vidas passadas. Muitas vezes nos revoltamos, e questionamos os motivos pelos quais Deus, nosso Pai Olorum, permite que eles se aproximem de nós. Mas enfim, o que nos esquecemos é que nossas almas são grandes fontes de Mistérios, labirintos estes nos quais nos perdemos devido às ilusões que nos aprisionam na matéria e em suas formas corrosivas.
O que me acontece no último ano, ou talvez mais do que isso, é que eu costumava ver perambulando pela minha casa alguns gatos pretos que definitivamente não estavam lá materialmente. Abro parênteses para citar que tenho um gato preto em casa que é meu bichinho de extimação e muitas vezes busquei acariciá-lo pelos corredores quando o avistava nas madrugadas em que me levantava para beber um copo d´água. E quando eu tentava tocá-lo, não havia nada palpável por ali. Muitas vezes até despertei durante a noite e ao olhar para a beira de meu leito vi ali o bichano quieto, só me observando com um brilho avermelhado em seus olhos. Não sei explicar o por quê, mas medo nunca senti diante disso.
Ontem, em torno das 19h30 eu senti como me acontece muitas vezes, um sono incontrolável e adormeci em torno de 40 minutos segundo o relato de minha irmã, mas que na verdade para mim tinha o impacto de horas sob um sono pesado.
Sonhei em minha casa, que no sonho parecia um pouco maior, com algumas salas a mais rodeadas por portas de vidro. Mas enfim, minha mãe estava conversando com minha tia na varanda e eu sentada no chão embaixo de uma penumbra e me colocava durante o sonho a brincar com meu gato. Mas de repente, eu estava cercada por gatos pretos e eles me mordiam, eu sentia-os mastigarem minha pele, mas não me causavam desespero. O que me atormentava era o fato de pedir ajuda à minha mãe e ela não me ouvir, pois minha voz pouco saía. Mas de repente os gatos não eram muitos, mas somente um, do qual eu fugia insistentemente e já me irritava tal perseguição. Eu reconhecia naquele animal, um espírito atormentado e não entendia as razões pelas quais ele me perseguia tanto. Tentei esmagá-lo em forma de gato com minhas próprias mãos, sentia até mesmo seus ossos se partirem. Mas nada, ele continuava perseguindo-me. Até que me cansei e soltei minha saudação aos Exus. Laroye! eu gritei, chamando o Exu Caveira, que trabalha com minha mãe. E na verdade eu não entendi porque ele não se livrava do animal quando eu assim lhe pedia, dizendo que poderia fazer o que quisesse com o bichano encrenqueiro. Diante disso, coloquei-me a indagar o animal-espírito sobre com qual de meus exus ele gostaria de trabalhar. E ele a todos se negava. Até que diante de minhas indagações ele me disse que gostaria de trabalhar com o Exu Caveira, que ali estava.
Logo após essa frase, o Exu se aproximou dele e assim lhe disse: - Pare com isso, homem! Ela não se lembra de você! Ainda não está preparada, então não é hora para você se despedir. Ela não se lembra, como sentiria saudades?!
Eu ali estava sentada, ao ouvir aquele diálogo comecei a chorar um pranto doloroso em meu sonho-recordação, onde compulsivamente chorava uma dor que não sabia explicar e via então, a verdadeira face, a que me lembrava ao menos, daquele espírito diante de mim que tanto me perturbava em sua forma-ilusória de felino. Eu o vi em memórias distantes, sendo açoitado e muito machucado por homens numa forma de prisão-porão que não pude identificar onde e os por quês. Mas me doíam, como me doía a alma vê-lo naquele estado. E só consegui lhe perguntar: - O que eles fizeram com você?!
Foram estas minhas últimas palavras naquele sonho antes de abraçá-lo numa dor sem fim. E o que lhes digo desta mais uma experiência, é que temos abismos e mistérios em nossas almas, coroadas de dor, erros, amor e remorso. Não julguemos nunca aquele que se aproxima de nós com a permissão de Deus, para sanar as muitas feridas de nossos passados. Mas que possamos bendizer cada oportunidade como essa, orando ao nosso Criador e aos sagrados regentes celestiais - nossos Orixás - que nos dêem força, amor e brandura para perdoar e sermos perdoados.

Que assim seja! Que Deus nos ampare em seu Infinito Amor e Misericórdia...Hoje e para todo o sempre.

...e uma frase que me toca a alma, de uma canção de Renato Russo assim diria: "...o sândalo perfuma o machado que o feriu."
[ ... ]

30 de março de 2010

Medo

O medo. Palavra tão pequenina e tão intensa em suas consequências.
Dizem que os olhos são a janela para a alma, mas eu diria que se eles são de fato as janelas, o medo é a porta da frente. Mas não são somente aqueles que nos tem afeto e júbilo que nos espreitam, buscando fendas e fraquezas em nossos ossos e essência.
O medo congela nossos sonhos e objetivos, nos condena ao buraco negro do pessimismo nos fazendo parar, justificando incessantemente os por quês de não lutarmos. Ele é a chave que entregamos livremente àqueles que sorriem diante da hipótese de nossa queda. É a corda, que puxamos das nuvens, amarrando-as em nossos pescoços sob o pretexto de pára-quedas para nosso salto perante o abismo.
Mas como seria a queda daqueles que nem mesmo aprenderam a engatinhar nas entranhas de seu próprio eu? A queda é uma ilusão. Uma pausa e nunca um retrocesso.
Conhece-te...Encare teus próprios medos e saiba distingui-los dos medos alheios quando eles baterem em seu coração buscando morada, impedindo-lhe de degustar a primavera por receio das chuvas.
Que teu coração só possua o que lhe pertence, que teus medos sejam sempre seus, pois só você tem a chave para destruí-los...
Vá...e feche a porta.
[ ... ]

24 de janeiro de 2010

@Rosa do Lodo

Foi observar o horizonte junto ao topo das árvores e seus pés já não tocavam o chão.
Com os braços erguidos e as pontas dos dedos simulando tocar as estrelas, feito vagalumes a cintilar em um sorriso que ignora suas recordações.
Ao vento suas lembranças bailando como um álbum de fotografias em suas canções que lhe marcaram feito cicatrizes.
Seus olhos úmidos no ar que não havia sereno, interrompidos por cipós lamacentos a envolver-lhe as pernas como que buscando resgatá-la de seus castelos de sonhos. Aqueles olhos. A aparência rude e séria que nenhuma palavra vertia, mas era suficiente para que ficasse atada ao chão. Mas eram lágrimas de sangue agora a escorrer daquela face assustadora e sombria, mas que tanta ternura lhe causava.
Presa em suas vestes, ergueu a negra taça de onde recolheu em seu olhar de mistério as lágrimas sangrentas. E ao tocar-lhe os lábios sugeriu um brinde e ao gargalhar foram estas as palavras ditas naqueles lábios rubros de sangue: "-Brindemos, companheiro de longas caminhadas, pois não é sempre neste vale de sombras em que vivemos, onde as lágrimas recolhidas sejam de saudade e afeto. Há tanto tempo que não degustamos outro sabor além do ódio e do peso do tempo que nunca passa e dos erros que nunca se apagam." (...)
[ ... ]