1 de abril de 2010

O Gato Preto

Abençoado seja nosso Divino Criador, que nos permite dia após dia refazermos e curarmos as chagas de nossas almas através da reencarnação e dos constantes passos que damos rumo às nossas evoluções ou pelo menos rumo ao ato balsâmico de amenizar nossas dívidas e pesares consciênciais.
Por mais atormentador que possa ser e muitas vezes parecer, é de extrema importância o fato da aproximação de alguns desafetos de nossas vidas passadas. Muitas vezes nos revoltamos, e questionamos os motivos pelos quais Deus, nosso Pai Olorum, permite que eles se aproximem de nós. Mas enfim, o que nos esquecemos é que nossas almas são grandes fontes de Mistérios, labirintos estes nos quais nos perdemos devido às ilusões que nos aprisionam na matéria e em suas formas corrosivas.
O que me acontece no último ano, ou talvez mais do que isso, é que eu costumava ver perambulando pela minha casa alguns gatos pretos que definitivamente não estavam lá materialmente. Abro parênteses para citar que tenho um gato preto em casa que é meu bichinho de extimação e muitas vezes busquei acariciá-lo pelos corredores quando o avistava nas madrugadas em que me levantava para beber um copo d´água. E quando eu tentava tocá-lo, não havia nada palpável por ali. Muitas vezes até despertei durante a noite e ao olhar para a beira de meu leito vi ali o bichano quieto, só me observando com um brilho avermelhado em seus olhos. Não sei explicar o por quê, mas medo nunca senti diante disso.
Ontem, em torno das 19h30 eu senti como me acontece muitas vezes, um sono incontrolável e adormeci em torno de 40 minutos segundo o relato de minha irmã, mas que na verdade para mim tinha o impacto de horas sob um sono pesado.
Sonhei em minha casa, que no sonho parecia um pouco maior, com algumas salas a mais rodeadas por portas de vidro. Mas enfim, minha mãe estava conversando com minha tia na varanda e eu sentada no chão embaixo de uma penumbra e me colocava durante o sonho a brincar com meu gato. Mas de repente, eu estava cercada por gatos pretos e eles me mordiam, eu sentia-os mastigarem minha pele, mas não me causavam desespero. O que me atormentava era o fato de pedir ajuda à minha mãe e ela não me ouvir, pois minha voz pouco saía. Mas de repente os gatos não eram muitos, mas somente um, do qual eu fugia insistentemente e já me irritava tal perseguição. Eu reconhecia naquele animal, um espírito atormentado e não entendia as razões pelas quais ele me perseguia tanto. Tentei esmagá-lo em forma de gato com minhas próprias mãos, sentia até mesmo seus ossos se partirem. Mas nada, ele continuava perseguindo-me. Até que me cansei e soltei minha saudação aos Exus. Laroye! eu gritei, chamando o Exu Caveira, que trabalha com minha mãe. E na verdade eu não entendi porque ele não se livrava do animal quando eu assim lhe pedia, dizendo que poderia fazer o que quisesse com o bichano encrenqueiro. Diante disso, coloquei-me a indagar o animal-espírito sobre com qual de meus exus ele gostaria de trabalhar. E ele a todos se negava. Até que diante de minhas indagações ele me disse que gostaria de trabalhar com o Exu Caveira, que ali estava.
Logo após essa frase, o Exu se aproximou dele e assim lhe disse: - Pare com isso, homem! Ela não se lembra de você! Ainda não está preparada, então não é hora para você se despedir. Ela não se lembra, como sentiria saudades?!
Eu ali estava sentada, ao ouvir aquele diálogo comecei a chorar um pranto doloroso em meu sonho-recordação, onde compulsivamente chorava uma dor que não sabia explicar e via então, a verdadeira face, a que me lembrava ao menos, daquele espírito diante de mim que tanto me perturbava em sua forma-ilusória de felino. Eu o vi em memórias distantes, sendo açoitado e muito machucado por homens numa forma de prisão-porão que não pude identificar onde e os por quês. Mas me doíam, como me doía a alma vê-lo naquele estado. E só consegui lhe perguntar: - O que eles fizeram com você?!
Foram estas minhas últimas palavras naquele sonho antes de abraçá-lo numa dor sem fim. E o que lhes digo desta mais uma experiência, é que temos abismos e mistérios em nossas almas, coroadas de dor, erros, amor e remorso. Não julguemos nunca aquele que se aproxima de nós com a permissão de Deus, para sanar as muitas feridas de nossos passados. Mas que possamos bendizer cada oportunidade como essa, orando ao nosso Criador e aos sagrados regentes celestiais - nossos Orixás - que nos dêem força, amor e brandura para perdoar e sermos perdoados.

Que assim seja! Que Deus nos ampare em seu Infinito Amor e Misericórdia...Hoje e para todo o sempre.

...e uma frase que me toca a alma, de uma canção de Renato Russo assim diria: "...o sândalo perfuma o machado que o feriu."

0 comentários: