Diálogo de Cores
Estava eu lendo uns trechos de Klimt essa noite quando me lembrei de ti.
Quando fala, desvias sempre o olhar para um ponto. Mas não como quem desvia para fugir, mas sim como quem se transporta. Sempre acreditei que os olhos são as portas da alma, mas eu diria que os seus são portais de seu mundo onírico, tão melancólico e colorido, paradoxal como são os universos da mente, nossos abismos que nos revelam a face que tanto rejeitamos e veneramos. Um lago formado de lodo e lótus. O eu.
Me recordo de quando eu era criança e tinha verdadeira adoração por olhos, recortava-os de revistas e os colava à minha volta enquanto estava sozinha. E sempre os recolhia e guardava em uma caixa quando alguém se aproximava. Pensava eu que minha obsessão fossem os olhos, mas hoje sei que o que me encanta e instiga sempre foi a alma humana.
Vi em tuas pinturas retratos que sempre povoaram minha mente, meus delírios, meus mundos, universos e abismos. E dentre todas as paisagens, sempre preferi os abismos. Além da razão, da vida, da morte e do tempo. Um abismo de cores.
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As palavras, faladas ou escritas, não me saem com facilidade, especialmente quando tenho que dizer algo sobre mim mesmo ou sobre meu trabalho. (...) Se alguém quiser descobrir algo em mim (...) pode contemplar atentamente minhas pinturas e tratar de descobrir através delas o que sou e o que quero". (Gustav Klimt)Sempre lhe achei um tanto calado, guardado, como que oculto dentro de si. E sabes bem como o oculto sempre me intriga. Mas de repente, não sei por quais motivos depois de tanto tempo Klimt voltou à minha mente e aos meus olhos e percebi que meus ouvidos tão doutrinados ou habituados - e por que não viciados? - em palavras, fecharam por um segundo meus olhos para ver e ouvir...Tuas palavras formadas de imagens, cores e mundos. Sua fala é mais constante e intensa do que a verborragia desse mundo palpável, mas só é possível escutá-lo com a mente, por dentro e não por fora.
Quando fala, desvias sempre o olhar para um ponto. Mas não como quem desvia para fugir, mas sim como quem se transporta. Sempre acreditei que os olhos são as portas da alma, mas eu diria que os seus são portais de seu mundo onírico, tão melancólico e colorido, paradoxal como são os universos da mente, nossos abismos que nos revelam a face que tanto rejeitamos e veneramos. Um lago formado de lodo e lótus. O eu.
Me recordo de quando eu era criança e tinha verdadeira adoração por olhos, recortava-os de revistas e os colava à minha volta enquanto estava sozinha. E sempre os recolhia e guardava em uma caixa quando alguém se aproximava. Pensava eu que minha obsessão fossem os olhos, mas hoje sei que o que me encanta e instiga sempre foi a alma humana.
Vi em tuas pinturas retratos que sempre povoaram minha mente, meus delírios, meus mundos, universos e abismos. E dentre todas as paisagens, sempre preferi os abismos. Além da razão, da vida, da morte e do tempo. Um abismo de cores.

